QUE PRESENTE DAR A UM FILHO DE 18 ANOS QUE ACABOU DE TIRAR A CARTEIRA DE MOTORISTA?

carroTenho dois filhos: a Bruna, de 20 anos de idade e o João, que com 18 anos, acabou de tirar a Carteira de Habilitação. Adivinha o presente que eu e minha esposa, Marília, demos a eles?

Se você pensou ou disse “carro”, sinto lhe decepcionar, mas a resposta está errada! Tudo bem, talvez você tenha sido induzido propositalmente ao erro, afinal até a imagem de um carro foi colocada no início do artigo. Foi pegadinha, me desculpe!

Mas você há de convir comigo que foi uma pegadinha bem leve. Muito mais danosa e perigosa é a pegadinha do carro novo, aquele presente dos sonhos de qualquer jovem de 18 anos (e de todo adulto também). Já tive essa idade e me lembro muito bem da sensação gostosa de ganhar um carro de presente. No meu caso dividia um Chevette novinho que meu pai deu pra mim e pro meu irmão através de um consórcio.

Mas a sensação maravilhosa traz junto com ela um custo financeiro muito alto: o de se manter um carro.

O CARRO É UM ATIVO?

Aprendemos nos cursos e livros de contabilidade que um ativo é qualquer bem ou direito de nossa propriedade que pode ser mensurável monetariamente e que representa um benefício presente ou futuro, como por exemplo, máquinas, equipamentos, terrenos, imóveis, veículos, ações, dinheiro, etc.

Sob esta ótica fica claro que o carro é um bem, e consequentemente, um ativo.

Os mesmos livros também informam que um passivo equivale a toda obrigação ou dívida que temos junto aos outros como nossas contas a pagar no mês, financiamentos, empréstimos, impostos, etc.

Uma forma diferente de interpretar esses conceitos é entender que ativo é tudo aquilo que nos gera renda, ou entrada de dinheiro em nosso caixa, enquanto que no lado oposto, passivo é tudo aquilo que nos gera despesa, ou seja, que consome o nosso dinheiro.

Apesar de não aceita acadêmica e formalmente pelas ciências contábeis essa interpretação não deixa de ser uma verdade.

O mais importante aqui não é definir tecnicamente o que é um ativo e um passivo, mas sim entender o efeito dos investimentos que fazemos com nosso dinheiro ao longo do tempo. Estes nos levarão a uma saúde financeira mais próspera ou nos arrastarão sempre para o lado oposto nos mantendo prisioneiros do dinheiro?

OS VERDADEIROS CUSTOS DE UM CARRO

carro com despesas associadasNão sei se você já parou pra fazer esta conta alguma vez em sua vida. Caso nunca tenha calculado, sugiro que o faça. Dica: dá pra estimar de maneira muito simples e rápida através do site “autocosts”. Não é muito difícil estimar, mas no meu caso, como tenho todas as despesas sistematicamente registradas há décadas, basta resgatar os valores gastos.

Temos dois carros em casa: um Honda Civic 2010 e um Onix 2013. Nos últimos 12 meses, tive as seguintes despesas relacionadas ao Onix:

Combustível: R$ 2.616,00
Seguro: R$ 1.623,00
IPVA: R$ 562,00
Licenciamento: R$ 160,00
Manutenção: R$ 590,00
Lanternagens/Pinturas: R$ 708,00
Estacionamento: R$ 155,00
Lavagem: R$ 117,00
Pedágio: R$ 29,00
Total: R$ 6.560,00

gastos detalhados últimos 12 meses

Isso sem contar uma despesa que poucos consideram, pois é a única que não requer desembolso: a depreciação. É o valor que seu carro vai perdendo ao longo tempo devido ao uso e ao desgaste. Contabilmente falando, existe um percentual de depreciação de veículos definido por lei que é de 20% ao ano. Mas também podemos encontrar um valor aproximado por modelo de veículo comparando o valor de mercado atual com o de um ano atrás através da tabela FIPE.

No caso do Onix este valor equivale a aproximadamente R$ 1.000,00 por ano.

Portanto, esse carro me custou o equivalente a R$ 7.560,00 nos últimos 12 meses, o que equivale a uma média de R$ 630,00 por mês.

Considero as minhas despesas relativamente baixas, justamente por rodar pouco. Meu carro possui aproximadamente 25.000 quilômetros rodados em 40 meses de uso, o que equivale a 625 km por mês ou pouco mais de 20 km por dia.

Dependendo do modelo e ano do carro e da cidade onde você mora, o total consumido pelo seu carro pode facilmente dobrar, em função do valor do seguro, das manutenções, dos pedágios e estacionamentos, do IPVA e da distância que percorre.

AS TROCAS NO TEMPO

Isto agora ou aquilo depois? Curtir o presente ou cuidar do amanhã? Estudar para a prova ou sair com os amigos? Gastar agora ou poupar para o futuro?

São perguntas das quais não se escapa. Mesmo que deixemos de fazê-las, agindo sob a hipnose do hábito, elas serão respondidas por meio de nossas ações.

Das decisões cotidianas ligadas a dieta, saúde e finanças às escolhas profissionais, afetivas e religiosas de longo alcance, as trocas no tempo pontuam a nossa trajetória pelo mundo.

São uma via de mão dupla. A posição credora – pagar agora, viver depois – é aquela em que abrimos mão de algo no presente em prol de algo esperado no futuro. O custo precede o benefício. Na outra ponta temos a posição devedora – viver agora, pagar depois. Benefício primeiro, custo mais tarde.

São todas situações em que valores ou benefícios usufruídos mais cedo acarretam algum tipo de ônus ou custo a ser pago mais à diante.

TRANSFORMANDO DESPESA EM RENDA

flor brotando dinheiro

Ainda não vendi o carro. Já estava tudo certo para vender para um amigo, mas o negócio precisou ser desfeito por uma boa causa. Entretanto, creio que o venda em poucos dias. O importante é que a decisão já foi tomada.

Serão R$ 630,00 que virarão investimentos todos os meses. Com as taxas de juros altamente atrativas que estamos vivenciando atualmente, dá pra conseguir tranquilamente uma rentabilidade de 1% ao mês (sem descontar a inflação). No momento em que escrevo, a Taxa Selic, grande balizadora da economia brasileira, está em 14% ao ano. E conseguimos aplicações em Títulos do Tesouro muito próximas a isso.

Este valor aplicado mensalmente se transforma em aproximadamente R$ 145.000,00 em 10 anos. Em 30 equivale a mais de R$ 2.200.000,00. Tudo bem que não estamos levando em consideração a inflação neste período, mas já dá pra se perceber o poder de multiplicação do dinheiro ao longo do tempo.

É uma aplicação clássica do dilema “pagar agora, viver depois ou viver agora, pagar depois”.

Uma das grandes diferenças na forma de pensar e agir em relação ao dinheiro entre os que têm muito e os que passam a vida lutando para tê-lo é a maneira de gastá-lo.

Os ricos investem primeiro em si, seja na forma de educação financeira e conhecimentos, como investindo em ativos que geram renda. Só depois de já terem uma renda consolidada é que investem em artigos de luxo, como um carro por exemplo.

Os que travam uma batalha eterna com o dinheiro compram os artigos de luxo primeiro, muitas vezes assumindo dívidas que nem sabem se terão como pagar. Fica claro que enquanto não saírem deste círculo vicioso ficarão eternamente lutando para ter uma vida boa e financeiramente saudável.

O CARRO FAZ MESMO TANTA FALTA?

menina andando de bicicleta

Conheço algumas pessoas, cuja situação financeira é pra lá de confortável, que simplesmente optaram por não ter carros. Curiosamente são pessoas que possuem um estilo de vida bem interessante, prezando entre outras coisas, pela liberdade geográfica e pelo contato com a natureza.

Escolhem morar em algum canto do mundo onde a qualidade de vida seja um fator primordial. Seus trabalhos não dependem de onde moram, desde que estejam conectados à internet. Viajam bastante e aprendem constantemente.

Não pretendo me mudar da minha cidade. Vitória é a cidade onde nasci, cresci, casei e tive filhos. É uma ilha deliciosa de se viver, com índices de primeiro mundo, que proporcionam uma qualidade de vida maravilhosa.

Mas viajar constantemente, conhecer novas pessoas, lugares e culturas e aprender sempre mais são uma das coisas mais prazerosas da vida e pretendo fazê-las com cada vez mais frequência.

Independente de ainda não ter vendido o carro, já comecei há um certo tempo a me adaptar com este estilo mais livre de vida. Introduzi um novo hábito: me locomover de bicicleta.

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A distância da minha casa ao meu trabalho é bem pequena, cerca de 2,2 km. Apesar de não haver uma ciclovia neste trajeto, é um percurso relativamente tranquilo, sem grandes perigos. Gasto em torno de 10 minutos de um local ao outro.

Esse hábito, além de proporcionar uma sensação gostosa de liberdade, me traz uma série de outros benefícios:

• Pratico uma atividade física, mesmo que leve, enquanto me locomovo;
• Tenho um contato mais próximo com a natureza. (É impressionante como observamos com muito mais detalhes os lugares por onde passamos!);
• Contribuo com a mobilidade urbana da minha cidade reduzindo o congestionamento do trânsito. Mesmo que seja só um carro a menos estou fazendo a minha parte;
• Livro-me do stress do trânsito na hora de pico;
• Contribuo com a redução de poluentes no meio ambiente. O monóxido de carbono é o principal deles, mas há diversos outros. Ou seja, dou a minha contribuição para um planeta mais sustentável.

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E SE A BICICLETA NÃO FOR UMA OPÇÃO VIÁVEL?

taxi metrô ônibus e a pé

A bicicleta pode não ser a solução para várias pessoas, pelos mais diversos motivos:

Distâncias muito longas a serem percorridas;
Medo de se machucar no trânsito;
Alguma limitação física que impeça o seu uso;
Falta de autoconfiança;
Medo de assalto;
E vários outros…

Mesmo assim existem várias alternativas ao uso do carro. O tradicional táxi, o Uber que já é realidade em várias cidades brasileiras, o Uber Pool onde você pode dividir a corrida com outras pessoas, o metrô em algumas cidades e o próprio ônibus, sem falar da caminhada quando se trata de distâncias não muito longas.

Cada um tem uma situação específica e particular. O mais importante é parar e refletir se você está fazendo as escolhas certas. Se julga que sim, vá em frente. Se achar que vale a pena rever alguns conceitos, nunca é tarde para mudar.

MAS AFINAL, QUAL FOI ENTÃO O PRESENTE DOS MEUS FILHOS?

caixa de presente embalada com laço

Poderíamos ter comprado um carro (não necessariamente novo) para eles, ou alternativamente, ter dado oficialmente a eles um dos dois carros da casa, no caso o Onix. Assim eles dividiriam o Onix e eu dividiria o Civic com minha esposa.

Porém, fizemos o inverso! Decidimos que podemos ter apenas um carro. Resolvemos vender os dois e comprar um terceiro, seminovo, que atenda ao gosto de todos e que seja de manutenção barata.

Neste caso, além da economia mensal citada acima, ainda temos uma nova injeção de dinheiro no caixa que é a diferença entre a venda dos dois carros atuais e a compra de um terceiro. Mais um belo recurso para investir

Paralelamente, mostramos a eles a importância de se conscientizar em relação aos gastos e consumos do dia a dia. Ensinamos conceitos básicos de investimentos e mostramos que ser financeiramente livre é simplesmente uma questão de escolha.

Mostramos um horizonte totalmente possível e real, onde daqui a alguns anos poderão escolher fazer o que quiserem. Trabalhar com o que desejarem, morar onde quiserem, conhecer o mundo todo. Ajudar nas causas com as quais se sentirem conectados. Seguir os seus propósitos. O dinheiro não será um limitador. Eles o possuirão em abundância. Essa é a única certeza!

Há pouco mais de um ano, cada um abriu sua própria conta numa corretora de valores. Mensalmente investem 30% de tudo que ganham (que neste momento resume-se à mesada e alguns eventuais presentes em dinheiro de parentes próximos) em ações e títulos de renda fixa. Aprenderam a balancear seus investimentos. Já aplicam o conceito de Alocação de Ativos.

Adquiriram um hábito que vão levar para o resto de suas vidas: o de pagarem a si mesmos primeiro.

Daqui a uns 30 anos, quando estiverem com a minha idade, poderão escolher quantos carros vão querer comprar. Dinheiro não será problema. Mas sinceramente, tenho um palpite, acho que darão muito mais valor a uma boa e gostosa bicicleta!

O nosso presente? Um combo de amor, carinho, educação no conceito mais amplo e, por que não, educação financeira? O fruto disso? A liberdade!

E você? O que pensa disso? Já são comentário lá embaixo, no final desta página! Adoraria ler o seu também.